sexta-feira, 29 de maio de 2009

Só mais um em alguma estatística


Houve um tempo, até alguns anos atrás, quando eu era mais jovem, quando ainda não tinha intermináveis gastrites por ficar nervoso com a minha vida, em que me sentia a pessoa mais poderosa do mundo. Bastava acontecer algum problema, e era só estufar o peito e o problema evaporava.

Eu podia ver o Nada como uma grande oportunidade para Criar, pois onde existe o vazio, existe um espaço para construir um novo cenário. Também podia correr prazerozamente na aula de educação física. Correr simplesmente pelo prazer de sentir formigamentos nas pernas de tanta exaustão por correr. Eu aumentava o ritmo só para sentir minha camiseta pesar de tanto suor.Eu acelerava pra ter o gostinho ultrapassar os meus colegas e me afirmar mais.

Se alguém me falasse atravessado, eu logo revidava, mostrava meu incomodo com a situação e se preciso fosse dava umas bicudas, me arriscava a levar uns catiripapos e o caso estava resolvido. Traçava mil estratégias, uma porção de planos infalíveis pra ser o homem mais rico do mundo, no começo queria ser só astronauta, como se ser um astronauta fosse algo bem simples. Depois, ser o mais rico ou o astronauta não bastava, eu queria mesmo era revolucionar o mundo.

Mas como um professor me disse uma vez, a vida vai bestificado o ser humano. O cotidiano me deixou domado, minha expressão facial não pode ser mais transparente, não posso demonstrar meus sentimentos. A necessidade de sobreviver, me fez somente sobreviver, alguém que vive a espera somente do dia 30, do dia do pagamento. Eu que me achava um super-homem, um predestinado, um ser único fui virando, sem perceber, só mais um, entre tantos outros, fui me tornando um número de r.g., me transformando em um número de c.p.f., metamorfoseando-me em um número de matrícula de funcionário de uma empresa qualquer. Se me perguntam quem sou, já não sei mais; no máximo respondo que sou o que trabalho e minha idade. Sou supervisor de crédito com quase trinta. Meu amigo responde: Sou policial. A outra responde: Sou professora. E nisso vou me contentando com as dores de cabeça, com as gastrites, com as úlceras, com uma tosse entalada na garganta quando estou nervoso.Vou me suportando! Mas onde será que está o astronauta, o super-homem, o criativo que um dia existiu em mim? Sei que ele ainda existe. Estou procurando...

sábado, 23 de maio de 2009

Eu Posso Voar!


Quase todas as noites, antes de dormir, tento abandonar o peso do meu dia de trabalho, abandonar o peso da minha mediocridade diante do mundo, e o peso da minha incapacidade e incompetência diante da minha própria vida.

Eu fecho os olhos, diminuo o ritmo da respiração e imagino que posso voar, voar bem alto.

No voo eu experimento a sensação do vento contrário batendo em meu rosto, e tremulando minha camiseta como se fosse uma bandeira hasteada em um dia 7 de setembro.

Experimento o silêncio. O silêncio das pessoas lá em baixo que ficam pequenas como formiguinhas andando pra lá e pra cá, e experimento o meu silêncio também. Os meus problemas se calam, minhas angustias emudecem, minhas inseguranças se apagam.

Tudo o que quero é voar...é sentir o o voo, o voo rumo ao sol, como uma ave que migra para o sul em direção ao sol, como um ser humano que busca uma direção, um caminho para o sol, brilhante e aquecedor...

segunda-feira, 18 de maio de 2009

NÓS SERES HUMANOS SOMOS COMO ANJOS MONTADOS EM PORCOS.


Ontem, meu domingo, foi um dia daqueles em que eu me sentia um pouco perdido, um pouco como átomo sem rumo, elétron desorientado. E nessas horas um bom remédio pra voltar nos eixos é caminhar. Decidi andar daqui de casa, na Vila Mariana até o centro de Aparecida, como pretexto resolvi ir comprar uma revista, a revista Veja. Claro que comprar a revista não era bem o meu objetivo, eu queria mesmo é caminhar, andar por aí, acreditar que cada passada dos meus pés ajudassem a oxigenar meus pensamentos. Eu queria era andar devagarzinho pela rua, deixando que as pessoas me ultrapassassem com a sua pressa sem existir um porquê pelas ruas. Eu queria era ter devaneios sem compromisso, eu queria era fugir dos meus compromissos, eu queria era derrubar meus castelinhos de cartas através dos meus questionamentos.
Mas me surpreendi; ao chegar em casa e ler um texto de Lya Luft, na verdade apenas uma citação que ela fez de um filósofo: NÓS SERES HUMANOS SOMOS COMO ANJOS MONTADOS EM PORCOS.
Uma metáfora simples mas tão profunda, que foi justamente tudo que o meu Eu precisava naquela minha angústia dominical.
Eu iria explicar esta metáfora aqui neste texto, até cheguei a escrever um explicação aqui, mas ela se tornou pequena diante do peso da metáfora, então para terminar eu a faço de título e de epitáfio do texto:
NÓS SERES HUMANOS SOMOS COMO ANJOS MONTADOS EM PORCOS.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Vai que eu entre em uma rotina!

Fico sempre reclamando da minha rotina, mas o que faço para mudar?

Quando vou trabalhar vou sempre pela mesma rua!
E nessa rua vou sempre pela mesma calçada!
Quando vou almoçar o feijão sempre fica do mesmo lado do arroz no prato!
No restaurante o garçon até já sabe: Coca de 600 ml com gêlo e limão!
Meus amigos são os mesmos já tem muito tempo!
Minhas piadas e causos são sempre os mesmos com algumas variantes!
Mas será que eu tô errado?
Vai que eu suba pela outra rua e um cachorro avance em mim!?
Vai que eu ande pelo outro lado da calçada e tenha um buraco!?
Vai que eu coloque o feijão por debaixo do arroz e a comida fique seca!?
Vai que eu peça um suco de Carambola e não goste do sabor!?
Vai que eu mude de amigos e eles não sejam tão meus amigos assim!?
Vai que eu troque a piada e os causos e ninguém ache graça!?

Pois é...como é chato ter rotina...mas vai que aconteça algo!?

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Felicidade!!!


Hoje eu estava dentro do ônibus indo para a cidade de Cruzeiro trabalhar, e fiquei pensando sobre o conceito FELICIDADE.
Será que nós seres humanos alcançamos a felicidade? Será que a felicidade realmente existe? Será que é possível ser feliz em meio as nossas misérias humanas, nossos traumas e decepções? Será que um dia serei feliz em plenitude? Será que é mais fácil ser feliz dentro de um iate no mediterrâneo bebendo champagne?
Muitas perguntas que são difíceis de serem respondidas, principalmente quando se está a caminho do trabalho, em um dia em que não se está muito motivado.
Sendo assim tentei recapitular os momentos em que me senti ou pelo menos achei que era realmente feliz.
Fiquei muito feliz quando passei no vestibular da FATEC, era a minha única chance de fazer uma faculdade, porque nem de longe eu teria condições de bancar um curso superior. Naquele tempo o resultado ficava pregado na porta da faculdade, a internet ainda não era a ferramenta que é hoje, e eu ainda não tinha computador. Eu voltei tão feliz que fui obrigado a dividir a minha alegria com o cobrador de ônibus: - "Cobrador desculpe eu estar tão feliz é que eu passei no vestibular, dá parabéns pra mim!?
Também fiquei muito feliz quando cheguei um dia de viagem e vi que minha irmã a Lyvia havia vindo da maternidade. A Lyvia é 23 anos mais nova do que eu, e nasceu prematura, com pouco mais de 6 meses. Foi um verdadeiro martírio a luta pela sobrevivência dela, ela ficou em UTI neonatal, passou meses em hospital e foi uma verdadeira guerreira pela vida.
Outro dia de muita felicidade foi quando eu consegui emprego nesta empresa que estou agora. Eu estava desempregado já tinha muitos meses, não tinha dinheiro pra nada, já não sabia nem onde procurar mais, e em um dia, que era o dia em que eu estava mais desesperado eu acho, me sentindo inútil, incapaz, eu recebi um telefonema perguntado se eu me interessava pelo emprego temporário, e esse emprego temporário já dura quase 4 anos...risos.
E claro, não tem como deixar de contar recordação da infância, momento de extrema felicidade. Me lembro das festas de São Benedito aqui em Aparecida, quando eu corria pelas ladeiras dos bonecos gigantes; João Paulino e Maria Angú, eu xingava os bonecos, driblava-os era uma dança-sem-fim ladeira abaixo.
Com a lembrança dessas experiências já consegui constatar que é preciso muito pouco pra ser feliz, que felicidade também é como um dia ensolarado depois de uma enxurrada. A germinação de uma semente depois de um incêndio devastador em uma floresta.
E como a felicidade é algo muito sútil, muito simples, agora eu sei que tenho de observar, de prestar muita atenção e aproveitar todos os momentos de felicidades, que são como ápses de alegria em pílulas.

terça-feira, 12 de maio de 2009


Saudades
Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,eu sinto saudades...
Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...
Sinto saudades da minha infância,do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...
Sinto saudades do presente,que não aproveitei de todo, lembrando do passado e apostando no futuro...
Sinto saudades do futuro,que se idealizado,provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...
Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!De quem disse que viria e nem apareceu; de quem apareceu correndo,sem me conhecer direito,de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.
Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito! Daqueles que não tiveram como me dizer adeus;de gente que passou na calçada contrária da minha vida e que só enxerguei de vislumbre!
Sinto saudades de coisas que tive e de outras que não tive mas quis muito ter!
Sinto saudades de coisas que nem sei se existiram.
Sinto saudades de coisas sérias,de coisas hilariantes, de casos, de experiências...
Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!
Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!
Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,
Sinto saudades das coisas que vivi e das que deixei passar,sem curtir na totalidade.
Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...não sei onde...para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...
Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades
Em japonês, em russo,em italiano, em inglês...mas que minha saudade,por eu ter nascido no Brasil,só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria, espontaneamente quando estamos desesperados...para contar dinheiro... fazer amor...declarar sentimentos fortes...seja lá em que lugar do mundo estejamos.
Eu acredito que um simples"I miss you"ou seja lá como possamos traduzir saudade em outra língua,nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.Talvez não exprima corretamente a imensa falta que sentimos de coisas ou pessoas queridas.
E é por isso que eu tenho mais saudades...Porque encontrei uma palavra para usar todas as vezes em que sinto este aperto no peito, meio nostálgico, meio gostoso, mas que funciona melhor do que um sinal vital quando se quer falar de vida e de sentimentos.Ela é a prova inequívoca de que somos sensíveis! De que amamos muito o que tivemos e lamentamos as coisas boas que perdemos ao longo da nossa existência...

Clarice Lispector

segunda-feira, 11 de maio de 2009

O BATMAN

Já que estou na série " recordações da infância" vou continuar firme e forte nesta linha.
A minha infância, no final dos anos 80, foi marcada por uma criação bem simples e cheia de restrições financeiras, que tinha como pano de fundo uma inflação de 40% ao mês. Um belo dia, abriram uma lojinha lá na rua da estação, onde eu morava, em que vendia-se mercadorias do Paraguai. Pra mim e acho que pra todo mundo, era tudo novidade, porque apesar da procedência e da qualidade duvidosa, aquelas quinquilharias tecnológicas davam de 10 a zero nos produtos fabricados no Brasil, sem contar que eram muito mais acessíveis ( no meu caso não tão acessível)
Um belo dia ficou em exposição um boneco do Batman, fiquei vidrado naquele brinquedo, sonhava dia e noite com ele, imaginava fazer todas aquelas onomatopéis que eu via no seríado antigo que eu via desse super herói na TV.
O brinquedo custava 2 mil, não sei mais qual a moeda, se era cruzeiro, cruzado ou cruzados novos. Só que eu não tinha o dinheiro. Passei um tempão juntando dinheiro pra ir comprar o Batman, só que quando eu completava o dinheiro, o boneco subia de preço, então eu juntava um pouco mais de dinheiro quando ia buscar o brinquedo ele tava mais caro. Só sei que eu nunca tive o Batman!

domingo, 10 de maio de 2009


Hoje, dia das Mães, lembrei da dona Oscarlina,a tia, uma antiga vizinha que era proprietária do beco ao lado de onde eu morava.
Diz a lenda, que dona Oscarlina possuía dois maridos; O Baiano e o Jorge. Todo dia das Mães, ela preparava aquele bando de comida na expectativa de que os filhos viessem visitá-la. Neste dia, na vitróla dela só tocavam canções temáticas para as mamães, lembro muito de uma da Ângela Maria que era a mais repetida. Só que o dia ia passando...passando...e a dona Oscalina ia entristecendo. Nenhum filho aparecia. Nenhum filho nunca apareceu.

sábado, 9 de maio de 2009

O Náufrago


Nesses últimos dias tenho me sentido um pouco como um náufrago, à deriva no meio do oceano com água por todos os lados. Um deserto de água salgada. Um condenado ao desaparecimento, impotente sobre os próximos acontecimentos em que a única coisa que consegue é pensar sobre como foi sua vida. É isso que estou fazendo...analisando...analisando...Lembrando dos caminhos que percorri, que já não posso voltar, tentando descobrir em qual ponto me perdi, ou ainda levantando a hipótese de que antes eu estava perdido, e agora, perdido na imensidão do mar que eu me encontrei...E assim vou indo, chorando, dando risada sozinho enquanto a barriga dói de fome e o corpo sofre com a insolação até que eu adormeça ou seja resgatado, Até que alguém se lembre do náufrago