CORTEJO

Ainda pouco, no meu primeiro dia útil de férias, no meu primeiro cochilo da tarde, eu estava deitado no sofá imaginando meu enterro, imaginando meu velório.
De primeiro impulso me imaginei bem velhinho, centenário, mais que centenário...mas logo vi que esse não era o cortejo que quero pra mim, onde estariam todos vocês que participam de alguma forma da minha vida neste momento? Provavelmente já teriam ido quase todos antes, e o pior; eu teria participado do cortejo fúnebre de vocês, ou ainda dado alguma desculpa para não ir, ou ainda fingido não saber para maquiar a dor.
Remoendo isso pensei na minha morte em idade madura já, ou ainda por agora, nos dias atuais, todos-ao-redor-do-caixão-chorando, lamentando-se,contando-píada, pobre-coitado,reencontrando-gente-que-só-se-vê-em-velório, morreu-tão-jovem, beata-puxando-reza, bêbado-entrando-no-velório,vida-toda-pela-frente, antes-ele-do-que-eu, nem-deu tempo de fazer-nada, procurou-a-morte, gente-boa, não-queria-morrer, um-ausente-presente.
Imaginei o Doni(meu pai) na madrugada no velório(como ele faz em todos) mandando todo mundo embora, dizendo-que-não-precisa-ficar, dizendo-que-não-precisa-chorar, pode-ir-dormir, tá-melhor-qui-nóis, amanhã-cê-vem.
É...a natureza é sabia, nossa única certeza é a morte, mas graças à Deus tem essa magia-de-não-se-saber-quando-e-como!Deus-me-livre!!